Estudante do 2º ano do ensino médio, Lorena Raíssa, de 15 anos, que neste carnaval fará sua estreia na Sapucaí à frente dos ritmistas da Beija-Flor de Nilópolis, onde mora, é o que se pode chamar de “prata da casa”.
A menina que nasceu quando a mãe voltava de um ensaio técnico da escola, obrigando o ônibus que levava os componentes a desviar o caminho para a maternidade, se considera integrante da Azul e branco da Baixada Fluminense desde esse dia. A ex-passista mirim, que superou 23 concorrentes no concurso que elegeu a substituta de Raíssa de Oliveira, é o símbolo de um movimento que começa a ganhar corpo nas agremiações: a valorização das “crias da comunidade” no posto mais cobiçado do carnaval que, pela visibilidade proporcionada, costuma atrair a atenção de famosas ou de gente que pode pagar por ele.
Mas esse carnaval não será igual àquele que passou. Metade das 12 escolas do Grupo Especial optou por trazer à frente de suas baterias rainhas que fazem parte das agremiações, em sua maioria, desde a infância. São meninas que, mais do que ter samba no pé, “são raiz”, como chamam alguns, ou chão da escola, como preferem outros. O número é maior do que os de 2022 e 2020, quando as rainhas de comunidade chegaram a cinco. Em 2021, não houve desfile por conta da pandemia. Em 2019, foram quatro. Há dez anos, eram três.
Algumas dessas escolas têm tradição de valorizar as “crias da comunidade”, como a Beija-Flor, onde Raíssa de Oliveira reinou por 20 anos, depois de Sônia Capeta, outra soberana “raiz”. Na Verde e rosa, Evelyn Bastos, de 29 anos, se orgulha de ser uma rainha com DNA mangueirense. Nascida na comunidade e filha de Vânia Bastos — rainha entre 1987 e 1989 —, ela começou na agremiação mirim Mangueira do Amanhã e, em 2013, interrompeu sete anos de apostas da escola em celebridades como Preta Gil e Gracyanne Barbosa para o posto.
Foram anos com o posto sendo ocupado, em sua maioria, por pessoas da mídia. Mas, sendo ousada, eu diria que a era das rainhas de bateria artistas está passando. Creio que cada vez mais o cargo será de meninas das comunidades — aposta Evelyn.
Das seis soberanas que nasceram em torno das quadras e cresceram entre as alas das escolas, principalmente a de passistas, três farão sua estreia no posto. Além de Lorena Raíssa, vão debutar à frente das baterias de suas agremiações Mayara Lima, da Paraíso do Tuiuti, e Maria Mariá, da Imperatriz Leopoldinense. Mayara foi um dos nomes comentados do carnaval passado, após um vídeo no qual sambava de forma sincronizada com ritmistas viralizar.
Foi o suficiente para a jovem ser aclamada pelos torcedores como substituta natural de Thay Magalhães. A jovem, que nasceu na Cidade de Deus, mas que desfila pela agremiação de São Cristóvão desde 2011, se orgulha de duas coisas: de ter sido escolhida pelo povo e de não precisar mais se espelhar em celebridades, como Viviane Araújo (Salgueiro) e Sabrina Sato (Vila Isabel).
— Quando via a Bianca (Monteiro, da Portela) e a Evelyn (Bastos, da Mangueira) me sentia representada. Agora com a Lorena (Raíssa, da Beija-Flor) e a Maria (Mariá, da Imperatriz) é uma felicidade — aponta Mayara.
Redação: Radio e Jornal A Voz do Povo.
Direção: Jornalista Marcio Carvalho.
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